Nas províncias onde se cultivava o milho, era preciso fazer o trabalho de separação entre a espiga e as folhas, razão pela qual recebeu o nome de “desfolhada”. Essas obras eram coletivas e realizadas por meio de um sistema de entreajuda, no qual os moradores da vila iam a todas as retiradas de folhas. A desfolha era feita nas eiras ou em telhados adjacentes, geralmente à noite, de finais de Setembro a princípios de Novembro. Estes encontros constituíam oportunidades privilegiadas de convívio entre os residentes e de transmissão de conhecimentos dos mais velhos para os mais jovens, como histórias, lendas, romances e, em geral, histórias com mensagem moral relacionadas com a sociedade rural. Do ponto de vista musical, esses encontros foram muito importantes para a transmissão e preservação das canções polifônicas e do romance tradicional. Terminavam com um baile, que funcionava como um atrativo para os jovens irem e assim contribuir para o rápido cumprimento da tarefa. Hoje, devido à diminuição das áreas cultivadas com milho nas regiões e à própria mecanização dos trabalhos relacionados ao seu tratamento, a importância sócio-musical desses encontros diminuiu radicalmente. No concelho de Monção, esta tradição está profundamente enraizada e expressa-se na iniciativa promovida pelo Grupo Folclórico dás Lavradeiras de São Pedro de Merufe, que todos os anos recria um cortejo tradicional com carros de bois, fardos de palha e utensílios tradicionais. No palco da festa não faltam vinho, sopa e caldo de farinha preparados na hora, assim como grupos de concertinas e cavaquinhos e cantadores típicos desta atividade das comunidades rurais. A recuperação dela representa uma viagem ao passado, quando a desfolha era uma prática comum nas freguesias.
bibliografia
- Gavetas Compartilhadas. (2020, 30 junio). As desfolhadas [Vídeo]. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=RYjXzgQZVtQ
- SARDINHA, J. A. (s. f.). Desfolhadas. Terra Mater. https://terramater.pt/desfolhadas/
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Câmara Municipal de Monçao