Inserida no ciclo das festividades florais, marcantes no mês de abril, maio e junho, temos a grande Festa da Santa Cruz, na freguesia de Alvarães, concelho de Viana do Castelo. Ela distingue-se pelos seus belíssimos andores floridos. Cada lugar da freguesia une-se no trabalho e na arte, confecionando um andor em honra do santo que lhe está atribuído, utilizando elementos vegetais e florais. Catorze andores e catorze cruzes transformam-se em cenários policromados, onde sobressaem monumentos e personagens. Festa de grande cariz religioso, pela fé que expressa no mistério da cruz, ela é, também, a ocasião para celebrar a arte da comunidade de Alvarães, o seu património cultural e a identidade de partilha e sacrifício que testemunham a todo o visitante.
A arte dos andores
A exuberância e qualidade da arte presente nos andores floridos testemunham saberes experimentados e artes tradicionais adquiridas ao longo de gerações. Seja nos arcos floridos, seja nos tapetes triunfais, o que acontece no trabalho de decoração floral dos andores, onde os ‘quadros’ exigem perícia e precisão, difíceis de conseguir com o material utilizado, é a prova de que junto com a transmissão de saberes ancestrais está também a aprendizagem recente no domínio de técnica e materiais novos. É um saber já consolidado e aperfeiçoado a cada ano. Mas é um saber dinâmico e desafiante, como se pode constatar em observação direta. Os mais novos aprendem com os experimentados, mas acrescentam e desafiam em arrojos de combinações de cores e formas. Entrar na Igreja Matriz e passar pelo seu centro, ladeado pelos andores ali colocados, é ter a experiência de uma estética emocionante. Osandores cativam pela exuberância da cor e da forma, fazendo do templo sagrado um jardim de arquiteturas do fantástico, mas todas convergentes para o louvor da santa cruz. Por isso, no dia e hora da procissão, quando saem à rua e são observados pela enorme multidão de admiradores e devotos, é importante para os mordomos e construtores essa admiração, mas importa mais o ter cumprido a tradição e levar pelos caminhos da aldeia a sua arte como expressão da sua fé. A cruz da morte é, agora, a cruz da vida e as flores testemunham essa transformação.